Divirtam-se

Depois de muitos pedidos, tipo 1.634 ao quadrado, aqui ficam alguns artigos escritos por mim há uns anos para a Notícias Magazine:

ARTIGO 1

Viajar de avião: que BOM!

Hoje estou solidário. O espírito revolucionário Polaco 1982 tomou conta dos meus dedos. As próximas linhas são uma palmada nas costas… um aperto de mão… um beijinho na bochecha… a todos os que neste momento estão dentro de um avião. Àqueles que gostariam de ir à janela e estão na fila do meio. Aos que daqui a três minutos vão cometer o primeiro crime, por já não aguentarem o ataque de tosse COUGHHH de quem está na fila de trás. Passageiros da turística estou com vocês…

Texto de Francisco Salgueiro

A minha vida é feita de tops. Tudo o que acontece vai para uma categoria. O top 3 dos bichos mais indefesos que esborrachei com o punho. O top 3 dos meus vizinhos que gemem mais alto quando estão a deglutir-se mutuamente. Todos estes tops são seres com vida própria. A cada semana há entradas directas para os primeiros lugares. Expulsões. Descidas. Desclassificações técnicas. Aldrabices. Nem uma sexta feira de Masterplan é tão animada.

Mas estranhamente, e desde que fundei o “Top 3- POR FAVOR TIREM-ME DAQUI!!!!” nunca houve uma única alteração. E a ocupar os três primeiros lugares deste categoria encontra-se a entrada num avião… através da 1ª classe.

Sempre que vou embarcar num avião rezo para que tenha havido o milagre do mexilhão podre. Que todos os passageiros tenham ingerido comida estragada e que estejam a gemer, curvados sobre a barriga e com quarenta e dois graus de febre, dentro das casas de banho do aeroporto. “Ai, Ai que vou morrer!!!”.

Anseio que ao entrar na classe turística a hospedeira me diga: “ Escolha o lugar que quiser. Hoje não vem mais ninguém. É o nosso único passageiro”.

Mas não. Isso nunca acontece. E ainda por cima sou torturando, porque obrigam-me a entrar no avião através da primeira classe. Porquê?! Para me sentir motivado a trabalhar mais e da próxima vez ter dinheiro para ir na primeira?!

Assim que entro na classe dos que ganharam o totoloto, têm contas em off-shore ou traficam armas/brancas/droga parece que acabei de entrar no Palácio de Queluz. O ar é sereno. As pessoas estão vestidas como se fossem para um cocktail com a presença da Caras. Estão tão calmas, que se me dissessem que tinham tomado uma caixa de Valiums extra forte não me admiraria.

As cadeiras chamam por mim. E dizem “Senta-te em cima do meu couro. É fofinho”. Não se ouvem berros estilo “Ó Jean Claude já te disse para parares de jogar a essa porcaria. Isso faz-te mal os olhos”. “Ó mãe, mas eu quero jogar ao Gameboy!”. Só faltam candelabros com lustres de cristal.

Os quatro segundos que demoro a atravessar este corredor deixam-me embalado, feliz por estar vivo, a caminho da minha classe, a cruzar os dedos na esperança do milagre do mexi… AHHHHHHHHHHHHHHHH!… parece que caí dentro da aldeia dos macacos.

Centenas de pessoas em pé. Todas tentam encaixar mais um saco de plástico dentro nos compartimentos. Por causa delas há uma bicha estilo segunda circular, sexta feira, oito da noite, inverno. Dá-se um passo a cada três segundos. Os meus olhos têm muita dificuldade em captar toda a agitação. Passam-se demasiadas coisas ao mesmo tempo. Tenho ideia de ver uma mancha difusa em movimento e pouco mais.

Ao passar pelas cadeiras, aliás micro cadeiras, as pessoas olham para mim. Noto que estão desesperadas. Parecem ir para a guilhotina. Os olhos pedem-me ajuda. Quero fazer alguma coisa por elas. Sinto-me em solidariedade. Lançar um disco? Um pirilampo mágico? Uma versão do jogo da mala dentro do avião? Mas os meus olhos respondem-lhes “Daqui a cinco segundos também vou estar com esse olhar”.

Altifalantes Made in Botsuana

Qualquer megafone da Feira Popular que avisa haver farturas a meio euro parece ser Digital Dolby Surround, ao lado do sistema de som dos aviões.

Um bilhete de avião não custa propriamente o mesmo do que um módulo de autocarro. Por isso não compreendo porque é que sempre que o comandante fala, só se percebe “Piii… Bliiii…Srs. Passageorz, bein vizzzdos ao nozzzzu aviae, plink, plonk, bunk”.

É um esforço para além dos limites de audição descritos nos livros de medicina, a tentativa de descodificação daquilo que nos tentam dizer.

E eu fico sempre preocupado, porque a meio da viagem e quando o comandante começa a falar connosco, nunca sei se estará a dizer “Espero que estejam a gostar de voar na nossa companhia”, ou “Espero que tenham os coletes postos porque vamos cair”.

Se não quiserem gastar dinheiro em novos altifalantes… please… arranjem uma forma diferente de comunicar com os passageiros. O nosso coração entra em modo pânico sempre que ouvimos “Srs. Pazajairzz… “. Estas são as três primeiras hipóteses que aterraram na minha cabeça: sinais de fumo ou de espelho; papelinhos que passam de passageiro em passageiro e código morse.

A tosse…!!!!!!!

Quando viajo, há sempre alguém que tem tosse… Cough…Cough… Cough… Atchim… que culmina com uma sobremesa de espirros. SEMPRE! E não é uma tosse qualquer. São mísseis biológicos disparados para todos os lados. Bactérias que voam em direcção a corpos inocentes, que rezam para não serem infectados por nenhuma doença durante a viagem (eu, por exemplo); O som que emana daquelas gargantas parece uma parada militar desgovernada, tambores amplificados por cordas vocais recheadas de doenças.

Antes de se embarcar deveria ser feito o teste da tosse. Algo do estilo teste do álcool para evitar que pessoas sãs não ficassem com morte precoce do ouvido, ou com a visita de uma doença indesejada para jantar.

Quem tivesse uma taxa de tosse superior a 0,5 (cinco ataques de tosse numa hora) teria de ficar em terra, ou como opção iria no contentor de bagagens.

As toalhinhas

Alguém consegue explicar-me para que servem aquelas toalhinhas quentes que as hospedeiras e os comissários de bordo entregam depois do avião levantar vôo?

Já viram os senhores das portagens da Brisa a darem um paninho quente no final da auto-estrada, para limparmos o suor das mãos, causado pelos sete desastres que nos safámos por milímetros?!

E mais. Se eu estou a suar, estou quente, e a última coisa que me apetece é ter de limpar as mãos a um pano que ainda está mais quente do que eu!

E mais mais. Já repararam no ar enojado das hospedeiras quando nos entregam o paninho quente. Colocam-no na ponta de uma pinça xl de plástico ou metal, deslocam a cara ligeiramente para trás e afastam-se rapidamente. Porque será?

3, 2, 1… Largada

Quando o avião aterra, e finalmente fica imobilizado, até parece que acabaram de anunciar que estão a oferecer o biquini de diamantes da Fátima Lopes à primeira pessoa que chegar à sala das malas.

Qual cem metros nos jogos olímpicos, qual carapuça. Mal aterra e zááássss, mais depressa do que as mudanças de pneus numa corrida fórmula 1, 99% das pessoas que estão no avião levantam-se.

Abrem os compartimentos da malas, e começam a empurrar. Queremos sair! Queremos liberdade! O povo unido jamais será vencido!

Subitamente o avião inteiro parece que se transformou no motim dentro de uma prisão brasileira. Só falta começarem a deitar fogo às cadeiras e atirarem com faixas para fora das janelas a dizerem “Papámos os chibos!!”.

Para quem passou no mínimo duas horas dentro do avião, qual a importância de mais três minutos sentados?! Hein?!

Quilos de inutilidades

Garanto que não há ninguém que leve mais coisas para férias do que eu. Juro! De modo algum! Para além das roupas interiores e exteriores que vão na mala principal, levo uma mochila com: 4 livros, 7 revistas compradas no ex-free shop, Game boy com uns 18 jogos, máquina fotográfica com duas objectivas e 5 filtros, 15 rolos, câmara de vídeo, 3 cassetes, telemóvel, carregador, discman e 23 cds. Ufff… Basicamente sou uma loja de electrodomésticos andante, sem alarme e facilmente assaltável. Sou uma pepita de ouro para qualquer ladrão.

Mas consigo guardar tudo isto dentro de uma mochila. Muito apertada… sim, é um facto. Parece o soutien da Pamela Anderson, em esforço redobrado, mas cabe tudo lá dentro. São pelo menos uns 7 quilos que as minhas costas carregam e que fazem com que já tenha estado mais longe de me transformar num corcunda.

Por ser o rei das inutilidades levadas para férias tenho o direito de dizer BASTA! Porque raio é que há pessoas que levam sacos, saquinhos, malas, malinhas e maletas para dentro do avião?!

E como normalmente são as que entram primeiro, espalham os sacos do Pingo Doce, Zara e Continente pelos compartimentos. E esgotam logo o espaço todo. Não fica um milímetro disponível. Nada. Tenho de levar com os 7 quilos da minha mochila em cima de mim durante toda a viagem.

Se eu consigo compactar tudo dentro uma mochila, porque haverá que leve 4 sacos de plástico para dentro dos aviões?! O que irá lá dentro que seja assim tão importante e que não possa ficar em Lisboa, ou que não possa ser misturado com o conteúdos dos outros sacos: Um cozido à portuguesa dentro dum tacho? Uma família de bacalhaus? Um trem de cozinha? Um jogo de atoalhados? Um colchão molaflex?

Quero um lugar à janela!

A comida é para ser comida. Certo? A água é para ser bebida. De acordo?! O objectivo de se ir à janela de um avião é para se poder olhar para fora. OK?! Então, se há poucos lugares à janela, quem lá vai deverá ser obrigado a olhar por ela durante toda a viagem!

Conseguem explicar-me porque há pessoas que vão à janela e:

•  Fecham a tampa, porque chatice das chatices está a entrar muita luz e incomoda imenso;

•  Não fecham a tampinha, mas também não olham lá para fora meia vez. Lêem revistas, jornais, a etiqueta dos ingredientes da comida do almoço ou ficam a olhar para as costas do banco da frente bêbedos nos seus pensamentos;

•  DORMEM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Se não fico à janela a minha pele deita uns três litros de água durante uma viagem de meia hora. Preciso sempre de verificar se não haverá um monstro a comer parte da asa. No fundo, bem lá no fundo, tenho esperança de encontrá-lo, conseguir filmá-lo e vender a cassete à CNN, enriquecer, reformar-me e passar a vida a organizar festas com coelhinhas da Playboy, Penthouse, Hustler e Gina a saírem de dentro de um bolo.

Já que antes do embarque se perde tanto tempo a responder a perguntas vitais, pertinentes e de extrema utilidade como “É terrorista ou alguma vez esteve envolvido em actividades terroristas?”, “ É comunista, foi ou gostaria de ter sido?”, não vejo mal nenhum que todos tivéssemos que passar pelo Teste-janela. Um pequeno questionário, com perguntas estilo:

Se estiver no lugar à janela e adormecer o que faz? a) Pede desculpa a quem está ao seu lado e promete que torna a acontecer; b) Vira-se para a hospedeira, mostra a tatuagem “Cova da Moura – Luta de Pitbulls Verão 2002” e diz-lhe “Estás a olhar para aonde chavala?! Paguei este lugar e faço com ele o que me apetecer! Tás a perceber?!”.

Um chichizinho

Como é que 10 minutos após a partida, 80% dos passageiros têm um súbito ataque de vontade de irem à casa de banho?! É um dos fenómenos mais estranhos da aviação. Rapidamente o corredor central parece a portagem da Marateca no dia 1 de Agosto. Mães, filhos, pais, cães, todos metem as mãozinhas junto à bexiga em sinal de grande aflição. Mas será que ninguém dá uso às casas de banho dos aeroportos?! Elas existem! Elas estão lá para serem usadas!

Por muita vontade que tenha, aguento-me. Só de pensar que para exercer qualquer necessidade tenho de fazer contorcionismo para me conseguir mexer dentro das micro casas de banho, prefiro esperar que o tempo passe.

O risco de fazermos uma lesão é monstruoso. Os movimentos têm de ser tão lentos como se estivéssemos na superfície da lua. Qualquer gesto brusco pode significar a cabeça ir contra o espelho e ficarmos com uma fonte na nossa cabeça a jorrar sangue. Um desequilíbrio pode levar a que para ampararmos a queda o braço acabe por ficar dentro da sanita.

Os potenciais desastres dentro de uma casa de banho são imensos. Mesmo que tenham assim tanta vontade, façam meditação, entrem em hibernação e fiquem num estado vegetativo. É o mais seguro. Acabei por me desviar do assunto: porque é que mal o avião levanta, o vírus bexiga apertada entra em acção?

Hospedeiras ao léu

E só para terminar: senhoras e meninas hospedeiras. Não vale a pena perderem tempo com as demonstrações em forma de mimo, antes do avião levantar voo. Não se cansem. Se estivessem nos Restauradores ainda fariam uns euros.

Mas dentro do avião vocês têm menos audiência do que a RTP2. Nessa altura a nossa atenção divide-se entre contar o número de pelos que temos no braço, experimentar novas maneiras de darmos laços nos atacadores e testarmos se o botão para a cadeira ir para a frente e para trás funciona.

Se fossem professoras poderiam mandar o aluno desatento para a rua com falta a vermelho e uma chamada telefónica aos pais para uma reunião com a directora. Mas vocês nada podem fazer.

Eu quero ajudar-vos. Não consigo ver mais o vosso sofrimento em silêncio. A dor que alastra pelos vossos corpos. Deixo algumas sugestões que garanto aumentarão as audiências dentro dos aviões. Hipótese 1) Vão-se despindo à medida que mostram as saídas de emergências e o local do pipo da bóia – muito SIC Radical; Hipótese 2) Vão-se despindo à medida… peço desculpa mas estava cheio de ideias, e agora isto não me sai da cabeça… peço desculpa… vão-se despindo… peço desculpa… peço desculpa.

ARTIGO 2

Hotéis: Sonho ou pesadelo?

Por que é que nos hotéis nunca dão pastas de dentes? Por que é que os lençóis nos hotéis têm sempre uma mancha? Por que é que o pequeno almoço nos hotéis tem de ser tomado sempre até às 10 horas? Por que é que os secadores nos hotéis têm menos potência do que um leque sevilhano?

Texto de Francisco Salgueiro

Eu não sei como é com vocês, mas a primeira coisa que faço quando chego a um quarto de hotel é verificar se tem secador. Ok, é a segunda coisa, a primeira é ver quantos canais a televisão apanha. Mas o secador vem num honroso segundo lugar, a milésimos segundos.

Não há nada pior num quarto de hotel do que ter um secador tipo Barbie. Serei eu a única pessoa a exigir um secador que seque? Serei eu a única pessoa que não quer sair para a rua a parecer que tem as Cataratas do Niagara a escorrem pelo cabelo? Sempre que vou para um hotel leio as brochuras de apresentação como se os próximos 50 anos da minha vida dependessem disso. 54% das vezes, perdão 87% das vezes, aliás 91% das vezes, qual o quê 99,999% das vezes dizem que o quarto tem um secador. São sempre tão fantásticos que secam o cabelo em dois segundos, penteiam-no automaticamente e até aparam as patilhas. Tão poderosos que os astronautas da Nasa levam modelos equivalentes para o espaço. Eu confio nas brochuras. Eu sei que sou ingénuo mas confio nas brochuras e não levo secador de casa.

Para mim o secador é quase tão importante como uma escova de dentes. Aliás é mais importante do que uma escova de dentes, porque se eu não lavá-los um dia, enfio uma pastilha na boca gluuuppp e já está. Ok, eu sei que é um nojo, mas não me digam que nunca fizeram…? Mas se não secar o cabelo, ele parece que apanhou um choque eléctrico, que viu o Júlio Isidro nu, ou que tem um iman a puxá-lo. Por isso tenho de ir bem preparado. Mas se a brochura assegura, quase com comprovação notarial que o secador que faz com que o nosso cabelo fique com tanta pinta como o do George Clooney (para os homens) ou da Jennifer Aniston (para as mulheres ou travestis), eu confio.

Mas quase sempre, na parede da casa de banho está uma caixa, com um tubo, de 10 cms, estilo aspirador. Não tem ar de secador, não tem pinta de secador e não seca como um secador. Quando ligo, e em vez de um viagral VRUMMMMMMM, apanho com um tímido Vrim! Tenho a certeza que se ligasse uma ventoinha e à sua frente colocasse uma lâmpada de 30 watts tinha mais potência e mais calor.

Depois de ligá-lo dá para tomar um chá, ouvir um discurso do Fidel Castro, ver a todas as edições dos Jogos sem Fronteiras desde 1975, fazer dez filhos e assistir aos seus casamentos. Ao fim de 30 minutos com a mão a segurar o secador e a cabeça quase colada à parede, digo ”Bolas, que se lixe, fica assim mesmo”. E quando saio para a rua deixo uma rasto de água pelo chão e muito cuidado porque quem vier atrás pode escorregar e partir a bacia, o colo do fémur ou a cana do nariz.

E já agora: Não quero morrer sem que alguém me explique: porque é que esses secadores estão sempre tão presos à parede como se fossem o cofre do Bill Gates? Têm medo que alguém os roube? Receiam que alguém os atire pela janela? Existirá lá dentro uma câmara oculta para filmarem-nos a tomar banho? Há hipótese das suas peças serem convertidas em catanas?

Chuveiro

O que é que se passa com os chuveiros dos hotéis? Senhores engenheiros: estão bêbedos quando dão ordens aos vossos empregos para colocarem os suportes para os chuveiros? Acabaram de cair dentro de um poço do Whisky? Tirando 3 ou 4 hotéis em que os suportes para os chuveiros podiam ser regulados em altura, ao longo da minha vida apanhei sempre com dois tipos de chuveiros:

1) Chuveiros móveis em que o suporte está ao nível da barriga (para quem tem 1m77 como eu. Quem tem 1m50 está ao nível dos mamilos. Quem tem um 1m80 está ao nível de uma área muito sensível e que tem de ser preservada).

2) Chuveiros fixos que estão presos à parede e colocados a 1m50 de altura.

Com os chuveiros que têm o suporte a nível da barriga temos de desligar a água sempre que não estamos a usá-la, porque senão, esguicha h20 para fora da banheira e um duche de 5 minutos dá para os animais do jardim zoológico mais próximo pensarem que têm de fugir das jaulas porque vem aí a nova versão da Arca de Noé. Se queremos ter a água ligada, temos de manter o chuveiro no chão da banheira, com um pé em cima para não esguichar por todo o lado. Uffff. É uma canseira. Se não tivermos tirado uma licenciatura em malabarismo, podemos escorregar na banheira, torcer a coluna e ficarmos paraplégicos para o resto da vida.

Mas ainda pior são os chuveiros que estão presos na parede a 1m50 de altura. Não dá para subi-los ou tirá-los. Resultado: temos de tomar banho como se fossemos o Corcunda de Notre Damme. E como é que conseguimos tomar banho nestas condições? Às vezes esquecemo-nos que o chuveiro é tão baixo e tungas! com a cabeça em cheio! A próxima vez que estiver ao vosso lado alguém que cheire mal, dêem-lhe um desconto, olhem para ele com pena e compreensão, porque pode estar instalado num hotel com o chuveiro preso na parede.

Será que estes chuveiros são uma forma dos hoteleiros nos dizerem: se tivesses trabalhado mais, estarias num hotel mais caro e com chuveiro regulável?! Ou será que é uma conspiração a nível mundial para as pessoas ficarem com galos na cabeça e dirigirem-se ao médico do hotel e terem de pagar uma consulta? Ou será que a associação dos perfumeiros quer que a população que frequenta hotéis cheire mal, para comprar os perfumes dos seus associados nas Duty Free Shops? Perguntas! Oh meu Deus tantas perguntas e nenhuma resposta! Será que custa muito instalarem chuveiros com a altura regulável?

Almofadas

Uma almofada é tão importante como escolher à mulher certa para ser mãe dos nossos filhos. Conhece a nossa cabeça e sabe quantos centímetros tem de ir para dentro. Tem consciência que se não se portar bem vamos ter insónias e pesadelos.

Quando reservamos um quarto num hotel deveriam dar-nos a escolher: “O senhor quer uma almofada tipo: a) Fofinha como se fosse o silicone da Pamela Anderson; b) Média como um hamburger do McDonalds; c) Dura como a marrada de um boi; d) Traz a sua?”.

Mas não. Infelizmente temos que gramar com almofadas que nos impingem. Tão duras que mais valia darem-nos dez pedras da calçada para colocarmos a nossa cabeça ou tão moles que devem ser da altura em que farmácia se escrevia com ph.

Os hotéis deviam incentivar as pessoas a trazerem as suas almofadas de casa. Não deveria ser vergonha as pessoas andarem pelo átrio dos hoteis com a almofada debaixo dos braços. Era uma óptima maneira para se meter conversa: “Mas que fronha tão gira…gosto especialmente desse Pokémon verde”. “Permita-me que sinta a textura da sua almofada?”, “Seria possível experimentar a sua almofada consigo?”

As almofadas deveriam ser um símbolo de status, um motivo de conversa à hora do chá, um motivo de orgulho, como se fossem filhos fruto do nosso amor por uma mulher.

Escova de Dentes

Eu agradeço a todos os hotéis por serem tão gentis e nos darem: sabonete, shampôo, amaciador de cabelo, after shave e toca para o cabelo. Estão em cima do lavatório. Nós não os pedimos, mas estão lá. Obrigado. Mas serei eu muito esquisito, ou é pedir muito que também dêem à borla uma pasta de dentes e uma escova de dentes? Ou que pelo menos no room service seja possível encomendar uma pasta de dentes e a escova que vai penetrar pela nossa dentição?

Sou obcecado com a lavagem dos dentes. Se o meu pai fosse um industrial rico pedia-lhe para investir num negócio que tenho a certeza que seria tão rentável como o tráfico de brancas: a criação de centrais de lavagem automática para os dentes, estilo carro. No final e para quem pagasse mais 500$00 até teria direito a dentes encerados e polidos.

Lavo os dentes, pelo menos cinco vezes ao dia. A última coisa que faço em casa antes de partir em viagem e ir à casa de banho e tchuck..tchuck lavo os dentes, até que subitamente piiiiii…continuo a lavar os dentes e piiiii…o táxi já chegou. Bochecho, desço as escadas, entro no táxi e canto como se fosse um tenor, para o taxista sentir o meu hálito fresco, “para o aeroporto”. Do que é que me esqueço sempre? O que é que fica sempre em casa? A escova de dentes e a pasta.

Devo ser a pessoa que mais supermercados conhece em todo o mundo. Tenho uma colecção de escovas e pastas de dentes que devem valer pelo menos um dia e meio de trabalho do Figo.

Alguém é capaz de me dizer porque e é que os hotéis gentilmente dão amaciadores e tocas de cabelo mas não fornecem pelo menos a pasta de dentes?!?!? Sigam-me: não é um contra-senso darem uma toca e um shampôo/amaciador? Se dão uma toca estão a incentivar a que a pessoa não lave a cabeça. Mas se dão o shampôo e ainda por cima o amaciador querem que o nossos cabelos fiquem cheirosos! certo? Não bastaria a toca ou o shampôo? Porque é que dão a escolher às pessoas se querem ou não molhar o cabelo? Se só dessem um já haveria dinheiro para a pasta de dentes e escova.

Micro Sabonetes

Felizmente sou magro. Elegante. Bem constituído. Com posses. E um óptimo partido. Depois desde momento narcísico em que acabei de dar a mim mesmo um beijinho no espelho, voltarei ao princípio: felizmente sou magro, porque se tivesse mais 40 quilos em cima e parecesse a Moby Dick em dia de banquete, estava bem tramado.

É mais um dos mistérios dos hotéis que me assombram há muito anos: porque é que os sabonetes têm o tamanho de uma carteira de fósforos e a espessura de uma moeda de 2$50? Sempre que acabo de me lavar resta na minha mão, um pedaço pouco maior do que uma cabeça de alfinete, e mesmo assim só porque não lavei atrás das orelhas e poupei nas axilas. Começo a imaginar: se tivesse mais 40 quilos, um destes sabonetes não daria sequer para lavar a minha barriga.

E ainda por cima são extremamente perigosos, se não temos cuidado podemos engoli-los quando estamos a lavar a cara, ou enfiá-los para dentro dos ouvidos ou para dentro de outras protuberâncias obscuras.

E como se isto já não fosse o suficiente, normalmente não deixam mais de três por dia. Três! Mas o que é que os hoteleiros pensam que nós somos: Atletas dos Jogos Olímpicos da Poupança de Sabonetes? Acham que temos os genes forretas do Tio Patinhas?

Pequeno Almoços

Para os hotéis vão sempre dois tipos de pessoas. Aliás três, sem contar com os que vão experimentar as molas dos colchões durante uns minutos. 1) Os que vão em trabalho. 2) Os que vão de férias.

As pessoas que vão em trabalho, acordam cedo e têm horários a cumprir. Certo? Mas se eu vou em férias é porque quero descansar. Quero dormir. Quero sonhar. Não quero ter de acordar cedo. Se me apetecer, quero poder acordar ao meio dia, às duas da tarde ou até às oito da noite. E quando acordo quero poder comer…uma refeição leve…porque mal acordo não tenho vontade de comer uma feijoada, um bife de lombo com batatas fritas, arroz e salada. Quero um croissant. Um sumo de laranja. Um pãozinho do tamanho de uma moeda de 200$00.

Não consigo perceber porque é que os hotéis têm um regime ditatorial, descendente de Saddam Husein: Mal chegamos à recepção está uma placa que diz: “Pequeno-Almoço entre as 7:00 e as 10:00”. No fundo, bem lá no fundo, o que eles querem dizer é ”Não se atrase seu mandrião. Nem pense em acordar depois das 10 horas!!!!”

É óbvio que quem vai para um hotel em trabalho consegue acordar a essas horas. E os turistas? cansados de meses de trabalho, aturarem os filhos e os sobrinhos aos berros e filas de carros todos os dias?

Para chegarmos a horas à sala do pequeno almoço, temos de pôr o despertador, levantar 10 minutos antes, vestir as calças por cima do pijama e irmos a correr pelos corredores. Se chegamos um minuto, e basta um só minuto, 60 segundos, depois da hora, a empregada já estar a tirar as comidas e a olhar para nós com o ar ”Seu calão, só agora é que acordaste!?! Já estou a pé desde as 5 da manhã!!”

Porque é que as senhoras dizem sempre “Já fechámos. Agora só vamos servir o almoço daqui a duas horas”. Que eu saiba, os pães e os croissants, não fecham para balanço. Vão simplesmente para a cozinha e são novamente metidos nas prateleiras. Os pãezinhos continuam lá, elas é que não nos querem dar. No fundo, quando dizem “Já fechámos”, o que querem dizer é “Já não o queremos servir, seu inútil pária da sociedade”.

As senhoras da limpeza

Eu até fico com joanetes sempre que me lembro das senhoras da limpeza dos hoteis. O regime ditatorial dos pequenos almoços é mau. Sim, muito mau! Mas nada se compara a estas senhoras! Uns despertadores em forma de pessoas. Os batalhões anti-sono. São a personificação do Diabo. Vá de retro. Fora! Chôôô!

Se quisermos faltar ao pequeno almoço é o nosso problema. Ninguém liga para o quarto a dizer “Então, o senhor não desce. Olhe que o pequeno almoço já está na mesa e está a ficar frio. Saia lá da cama seu mandrião e venha comer. Quer que eu telefone à sua mãe?”. Mas se temos o azar de ficarmos no quarto que é o primeiro do corredor, onde as senhoras começam as limpezas…oooopppppssss.

Pelas nove da manhã Truc Truc! E que poderoso toque elas conseguem fazer! Não é um truc! é um TRUC “Abra a porta porque eu QUERO LIMPAR”. Nunca podemos dizer “Seria possível, será um grande incómodo, é só uma sugestão não leve a mal, vir um bocadinho mais tarde? É que a minha mulher está com afrontamentos. Não se está a sentir muito bem, é uma pessoa adoentada”. E porque é que não podemos dizer isto? porque elas são mestras na arte da manipulação. Olham sempre com um ar triste, de vítimas e dizem: “mas se não limpamos os quartos por ordem, daqui a um bocado toda a limpeza do hotel está desorganizada”. Começamos logo a pensar que duas horas mais tarde só se ouvirão berros pelos corredores do hotel “Preciso de papel higiénico”, “Porque é que a banheira ainda está com pelos?”. Claro que do tubo de exaustão se ouvirá “a culpa é do senhor do quarto 400”. Depois todos os outros hóspedes virão atrás de nós, a atirarem-nos à cara com cuecas sujas, soutiens de 6 dias de utilização intensiva e embalagens de shampoos vazias. O melhor é mesmo dizer ”Então limpe lá o quarto. Não vai demorar muito tempo, pois não?”.«

Se ainda estávamos com alguma esperança de voltar para a cama, entrar em hibernação durante dez minutos e só acordar quando elas se fossem embora, HAHAHA. Elas têm uns mega aspiradores, com um motor que parece um carro em Indianápolis…VRRUUUMMMM, depois batem inocentemente com o aspirador na cama e dizem “Não estou a incomodar pois não? saio já. É muito rápido”. O rápido nunca é menos de 20 minutos. São 1200 segundos em que poderíamos estar a sonhar com a Ana Kournikova a apresentar a meteorologia em roupa interior. Bolas!

Não poderiam arranjar quartos que se auto-limpassem. Como as casas de banho que estão nas ruas, onde metemos uma moeda de 100$00 e já está?

O mofo! o mofo!

Nunca vos aconteceu chegarem cansados da viagem, quererem descansar uns minutos no quarto, meterem a chave na porta, abrirem-na e bllllllaagghhhhhh…que cheiro a mofo!!!! Parece que acabámos de ir parar a um quarto onde se encontram dois cadáveres em putrefacção, que lá ficaram esquecidos desde 1775. É um bafo que invade as nossas narinas sem pedir autorização. Que percorre o nosso corpo e que tenta penetrá-lo.

Eu vou sempre reclamar à recepção. Não digo “É inadmissível!. Dêem-me já o livro de reclamações”. Tenho uma táctica muito melhor: Obrigo o recepcionista a ir comigo para cheirar a podridão no meio da qual ele quer que eu durma. Sim, porque aquele ser sabe da existência do cheiro do quarto e foi ele que me deu a chave. Como ele é o culpado, vai ter de sofrer.

Ao longo do corredor sinto-me um gladiador após ter ganho e a receber as ovações do público. Estou pronto para o próximo embate. Se nessas alturas me aparecesse o Mike Tyson pela frente seria eu a morder-lhe a orelha. Abro a porta e digo ”Está a sentir?”. Esperando por um pedido de desculpa e ser-me oferecida estadia vitalícia naquele hotel sem ter de pagar nada, com o bónus de noites eróticas com a mulher dele e da filha mais velha, a resposta é “Não cheira a nada. Está óptimo”. O quê?!?!? “Não sente um leve cheiro a estrume de vaca, misturado com o suor de um maratonista que não usou desodorizante?”. “Não, está óptimo e agora se me dá licença, tenho de voltar à recepção porque tenho muito trabalho”. Já depois de sair do quarto, vira-se para trás e diz ”mas se o senhor sente..” e nessa altura penso que o final da frase será “…posso mudá-lo de quarto”, mas não, diz “abra as janelas!!!”

Que nojo!!!! O que é isto?!

Já dormi em hotéis de luxo, com sete estrelas. Já dormi em hotéis onde nem havia baratas, porque até elas tinham nojo de lá habitar. Mas em todos os hotéis há sempre algo em comum: a mancha nos lençóis ou cobertores.

Algures, bem escondida existe sempre uma mancha. Pode ser castanha, pode ser lilás, pode ser transparente com contornos cinzentos, mas existe sempre uma mancha. Pode ter 1 milímetro ou 10 centímetros, alta ou baixa, magra ou gorda. Mas existe sempre uma mancha. Não se sabe se foi durante a lavagem que um outro tecido debotou, se vem do interior de uma parte baixa do corpo humano, dum hamburger, da cera dos ouvidos, de ramelas derretidas ou da porcaria que está nos dedos. Mas existe sempre uma mancha.

Nunca vale a pena pedirmos para nos trocarem de emergência esse lençol. Não vale. Porque a mancha que vem no lençol a seguir pode ser ainda maior e de cor ainda mais duvidosa. O melhor que têm a fazer é pegarem numa tesoura e recortarem a mancha, tendo sempre o cuidado de pegarem no tecido, nunca com os dedos, mas sim com uma pinça. Yucckk!

ARTIGO 3

Guia de sobrevivência em Vilamoura

Desde já faço um pedido aos senhores do Guia Michelin: entrem em contacto comigo, para incluírem as estas páginas na edição do próximo ano. São o melhor guia sobre Vilamoura, alguma vez editado, em qualquer publicação do planeta Terra, Lua incluída. Se este ano querem ser alguém. Se este ano querem ser vistos. Se este ano querem ser comentados. Se este ano querem dizer mal de alguém e se este ano querem estar na moda, então devorem os próximos caracteres, as próximas letras, as próximas palavras e os próximos parágrafos. No final do verão espero receber uns cheques em sinal de agradecimento. Se têm menos de 26 anos, posso fazer a quem tiver cartão jovem.

assar quinze dias em Vilamoura e estar nos sítios certos, à hora certa, vestido na maneira correcta e serem fotografados, não é tão simples como acender um isqueiro. Aliás, é capaz de ser bem mais difícil do que organizar um casamento para três mil convidados, debaixo de água.

Dou-vos um conselho: tirem estas páginas da revista, plastifiquem-nas e levem-nas para Vilamoura. Vão ser tão úteis como um preservativo ou uns implantes de silicone. Se seguirem os meus conselhos, têm muito boas hipóteses por passarem por alguém da alta sociedade, jet set ou mesmo do jet oito. No final, já terão uma pós graduação na ciência dos bem. O artigo principal é dedicado aos pretendentes a sobrinhos, que têm entre os 18 e os 30 anos. Lá mais para a frente encontrarão uma caixa, para quem tem pretensões a ser condecorado com a graciosa ordem de tio ou tia.

Onde ficar?

Heii…heii…voltem aqui…não vão já a correr para a agência de viagens mais próxima de vossas casas. Nem pensem em alugar um apartamento em Vilamoura. Estão doidos ou quê?! Lição número 1: Nunca se aluga uma casa ou um apartamento em Vilamoura. Não é bem. Têm sempre que ficar na casa de um amigo, na casa dos pais ou na casa de algum tio. Se vos perguntam onde é que estão instalados, não podem, como é óbvio, dizer que alugaram um apartamentozinho com termo-acumulador para duas pessoas, que fica a três quilómetros da Marina!! Não senhor.

Só assim é que podem mostrar que conhecem ou são da família de pessoas com posses. Entendido? Não se aluga. Se não tiverem nenhum amigo ou familiar com casa em Vilamoura…puxem pela cabeça…é óbvio que podem alugar um apartamento…simplesmente não digam isso a ninguém…shhhhh. Mantenham-se em silêncio e digam por exemplo que estão instalados numa casa fantástica de um tio brasileiro (gigantesca, com piscina, sauna, jacuzzi e banho turco). Infelizmente ninguém pode lá ir porque ele veio a Portugal e precisa muito de descansar porque este ano foi raptado quatro vezes. Há algo mais bem do que terem um tio raptado e ainda por cima quatro vezes!?!?!

É óbvio que também nunca devem ir para uma casa que não seja em Vilamoura, Almancil ou Vale de Lobo. Passar férias na Quarteira é o equivalente a morarem na Brandôa. Por acaso já viram alguma tia a morar na Brandôa?!?!?

Vilamoura só é realmente bem, durante as primeiras duas semanas de Agosto. Porquê? Se souberem a resposta, mandem-na ao meu cuidado. Mais um mistério na história do Homo Vilamouris.

As praias

Todas as praias são iguais, mas há umas mais iguais do que outras: os sobrinhos adoram o Ancão e a Vila Sol. Os grãos de areia destas praias são muito mais bem, do que os de outras. Só por irem a estas praias, ficam automaticamente 50% bem. Quanto aos restantes, estejam com atenção:

Eles- Nunca chegar à praia antes das cinco da tarde. Se cometem a ousadia de aparecer antes dessa hora, significa que não foram sair na noite anterior, logo não têm amigos, logo não apanharam uma bebedeira, logo não estão a ressacar, logo não são populares. Logo não vale a pena darem-se com vocês. Mas se o vossos objectivo é engatarem meninas, ir antes dessa hora pode ser uma óptima aposta, porque elas chegam à praia muito mais cedo. E assim não têm concorrência. Aproveitem!

A roupa: Calções de marca, que tenham custado alguns quilos de escudos. Não podem vir da feira de Carcavelos! Sapatos de vela rasos (e este pormenor é muito importante; a sola não pode ser de inverno. Tem de ser lisa…ou seja, de verão. Mais depressa se apanha um falso bem do que um coxo). A T-shirt tem de se ver imediatamente que não foi comprada em Portugal. Uma T-shirt que diga Nova Iorque é sempre uma aposta segura. Mas…vestir uma T-shirt, com uma maçã, a dizer Nova Iorque, não é tão rasca como uma a dizer Barcelos e com a imagem do galo?!…desculpem este momento, mas fui invadido por um espírito filosófico…volto já para assuntos mais terrenos.

Nunca devem levar uma mochila para a praia…pode provocar lesões na coluna, com o peso do que levam lá dentro. Tudo o que precisarem tem de ir na mão: toalha, chaves do carro, rádio e telemóvel. Quando chegarem à areia, metam-nos dentro do saco duma amiga. Um fio de prata ainda continua a ser um clássico e também fica sempre bem; significa tradição, valores familiares, boas famílias, encontro espiritual com Jesus…tudo muito religioso, logo poderão ser bons maridos e pais de família.

O que é que eles devem fazer durante as horas que estão na praia? Aproveitar o verão para ler as obras de Gabriel Garcia Marquez, a biografia do Marquês de Sade ou uns poemas de Lord Byron? Ahahahahah. Claro que não. O verão serve para descansar. Nem sequer querem saber das últimas sobre Timor. Por isso, escusam de ir carregados com livros e jornais para a praia; afinal de contas os jornais sujam as mãos…e já viram coisa mais nojenta do que darem um aperto de mão a um tio e sujarem-lhe a mão. Que horror!! No entanto, uma revista de carros, com muitas fotografias é aceitável.

Nunca, mas nunca e vou escrever em maiúsculas, para não se esquecerem, NUNCA joguem futebol na areia. Isso pode dar-vos direito a um cartão vermelho e serem expulsos da praia. Joga-se futebol nos areais de Albufeira, Faro ou Olhão, mas não nos de Vilamoura. Se fazem parte daquele grupo de meninos que não consegue ficar na praia sem jogar futebol, tomem um calmante, um copo de água com açúcar, pratiquem ioga, mas resistam à tentação da bola. Mas se quiserem, podem e devem jogar Beach Rugby. É super bem e impressiona imenso as Purezas e as Beneditas. Elas ficam excitadíssssssssssimaaaaaaas. Corpos bronzeados, músculos suados…enfim é a hora Coca Cola Light versão Vilamoura.

Elas-Vão muito mais cedo para a praia. O mais tardar às duas. Têm de fazer um enorme esforço para manterem a pele bronzeadérrima…

elas têm de ficar o máximo. Porque à noite têm de ser alvo dos ataques dos predadores hormonais. E os rapazes têm de se meter mais vezes com elas do que com as amigas. Chegar um minuto mais cedo à praia, pode significar uma coloração mais escura e pelo menos mais um rapaz se meter com ela, durante a noite. Isso é muito importante, porque no final das férias, quando forem contabilizar quantos se meteram com elas, têm de ser as vencedoras destes Jogos Sem Fronteira Eróticos.

Durante os últimos dois meses antes das férias andaram em dietas talónicas, e agora possuem corpos versão Linea. As que são donas duns quilos a mais, com alguma celulite, ou já têm namorado e estão conformadas, ou então vão perder o concurso de quem é engatada mais vezes.

Nos intervalos do bronze falam…falam muito…muito mesmo: a) da noite anterior; b) de quem lá estava; c) de quem lá estava e que parecia um susto; d) de quem lá estava, parecia um susto e teve a lata de andar aos beijos ao Lourenço que é um borracho; e) das festas que ainda estão para vir e que serão o máximo (elas têm uma bola de cristal e conseguem prever o futuro); f) sobre quem gostariam de ser engatadas, h) da roupa que vão vestir nessa noite (Ah é verdade, já me ia esquecendo: têm de levar pelo menos dois baús de roupa para Vilamoura). Enfim…podia chegar até ao fim do abecedário, mas os temas nunca ultrapassariam o nível 1 do interessantómetro e tenho medo de adormecer de tédio.

Roupas: Calças muito justas ou muito largas, ou um então um pareo (um pano a imitar as brasileiras). Na parte de cima algo muito justo, de preferência um top, quase mais curto do que o biquini. Obviamente que não podem ir de chinelos…este ano usa-se a sandália/soca de plástico…um género híbrido com milhares de fãs. Sapatos tipos Keds branquinhos também são sempre uma aposta segura. Ao ombro vem um saco transparente. Lá dentro têm de ir: cremes, telemóvel e algumas revistas, de preferência Caras, Eles e Elas e O quê…sempre na esperança de verem se alguém lhes tirou uma fotografia. Também têm de ter alguns testes tipo ”Consegue tê-lo a rastejar aos seus pés?” e guias do género ”Saiba como ter orgasmos ao ar livre”.

Desporto na praia: só se fôr um voleizito, de vez em quando para não cansar muito. As boas e velhas raquetes são o Beethoven dos divertimentos na praia…são sempre um clássico, que fica bem para eles e para elas.

Hora de retirada: nunca antes da oito da noite. E se tiverem uma dor de barriga, uma tontura ou um torcicolo, será que se podem retirar mais cedo? obviamente que não. Aguentem-se. Mas não podem abandonar a areia antes das oito da noite. Não sejam mariquinhas.

Ah, é verdade, o lado esquerdo das praias é normalmente o mais bem. Porquê?! Encolho os ombros e não tenho qualquer resposta.

Depois vai tudo para casa descansar…dormir mais umas horas porque a noite vai ser longa…zzzzz.

A Noite

Jantar em casa é tão mau como cuspir para o chão, ou dar um arroto no meio da Marina. Em casa não entra comida. É obrigatório irem jantar fora. E muito tarde. Nunca antes das dez ou onze da noite….se não conseguirem dormir a sesta, se estiverem a morrer de fome e quiserem ir jantar às oito da noite…façam as palavras cruzadas, contem quantas pestanas têm e comam uns pevides ou pistachios.

Se o dinheiro não fôr muito, fica sempre bem ir a um restaurante arraçado de tasca ou a uma Pizzaria na Marina. Em Almancil têm o Ribeiro e na Oura o Zé do Peixe. Se forem jantar com os pais ou com os tios não podem falhar o Pier 1, o Cesteiro ou o Akvavit, na Marina (são caros, mas eles pagam!!).

A seguir ao jantar é tempo de irem para os bares na Marina. Realmente bem é frequentarem o China, o Sete e o Gávea. Os outros deixem-nos para quem não tem pretensões jet setais, ou para os estrangeiros.

Eles- bebem e bebem e bebem. Vêem as raparigas passar, comentam e preparam os seus ataques para mais logo. Vestem jeans ou calças beige. Para tapar o tronco pode ser uma T-Shirt, uma vez mais, de um país qualquer, só que desta vez já não pode estar escrito o nome de uma cidade. Tem de ter o nome de uma marca que ainda não exista em Portugal. (ex: GAP escrito em letras que até um míope consegue ler). Obviamente que camisas, só mesmo aquelas que custam tanto como o ordenado de um ano de um albanês: Gant, Façonnable ou Burberry’s. A camisa pode estar para dentro das calças ou para fora. Mas atenção: se estiver para fora, a fralda não pode estar amachucada.

Elas- bebem bem menos, continuam a comentar como a Matilde vai mal vestida e como gostariam de serem engatadas pelo Salvador.

Vestem muito pouco e estão quase mais despidas do que se estivessem na praia com biquini. Tops versão Portugal dos pequeninos, de preferência sem soutien. Calças justas. Este ano, abaixo do tornozelo, à pirata, é suuuupeeeer in. E sandálias.

A Noitada

Quando já forem três e meia é tempo para se dirijirem às discotecas. Se para lá forem antes disso, só vão encontrar tios com mais de 200 anos. Claro que se são gigolos à procura do golpe do baú, é uma óptima hora. Quanto mais tarde lá chegarem, mais in. Só podem ir a três discotecas: Trigonometria (entre os 15 e os 18 anos…para os sobrinhos júnior, que se embebedam com cerveja), Klube (a irmã mais nova da Kapital- a entrada é seleccionada mas não muito. Quando estava a escrever estas linhas ainda não se sabia se ia abrir…as obras estavam atrasadas…mas agora vocês já saberão) e o T-Clube (o Rolls Royce das discotecas- onde só entra quem luzidir ouro, cheirar melhor do que uma fábrica de perfumes e esteja tão bem penteado, que pareça saído do cabeleireiro).

Lá dentro eles bebem, engatam e andam à pancada. Esqueçam as divergências entre o Benfica e o Porto. Bye Bye Pinto da Costa, adeus Vale e Azevedo. Normalmente as grandes cenas de pancadaria, são entre os bens de Lisboa (Cascais incluído) e os do Porto. Razões: meteram-se com a Constança errada, foram ordinários para a Pipa. Trás, zás, trum…pumm. Fica bem terem uma nódoa negra. São os heróis e acabam sempre por ser acarinhados pelas Carlotas e pelas Veras.

Lá dentro elas dançam, berram quando eles começam à pancada e dão mimos aos heróis que defenderam a sua honra.

E durante algumas longas noites é este o ritual. Só saem das discotecas por volta das oito da manhã, quando são enxotados. A seguir vão ao Posto 2 tomar o pequeno almoço e por volta das onze da manhã adormecem. É uma vida muito dura…qual estiva qual carapuça!

Como podem constatar, sobreviver em Vilamoura, é mais difícil do que passar duas semanas no deserto do Sahara sem água. E se conseguirem aguentar este ritmo alucinante de férias, recheado de adrenalina e muita emoção, dou-vos os meus parabéns e passarão a ser os meus heróis.

(CAIXA)

Os Tios

Se tiverem mais de trinta anos, também podem tentar entrar no jet set de Vilamoura. É mais difícil porque os grupos já estão seleccionados. Mas se seguirem os meus conselhos, não terão muitas dificuldades.

Não têm uma casa em Vilamoura, com 3 piscinas e cinco hectares de jardins com palmeiras? Não há problema. Não desesperem. Se o vosso saldo bancário tem dezenas de zeros, então aluguem um quarto, suite ou apartamento no Marinotel, Hotel da Quinta do Lago, Sheraton Pine Cliffs, Hotel Vale de Lobo ou Hotel Vila Vita Park. Nem pensem em alugar um apartamento, com nome tipo “Edifício Ricardo”.

Se quiserem fazer parte do pequeno grupo dos realmente BEM, então arranjem algum amigo com um barco e passem lá as férias. Mas não é uma lancha ou um bote a remos estilo Campo Grande. Não. Tem de ser um barco com pelo menos 15 metros, uns dois quartos e uma suite. Se não tiverem nenhum amigo que seja familiar do Bill Gates, então vão até à Marina, aproximem-se dum iate, digam que estão cheios de sede, peçam um copo de água, e quando lá entrarem e ninguém estiver a ver, dêem uma marretada na cabeça do dono, amordacem-no e fechem-no no porão. Se tiver filhos…azarito…pumba na cabeça deles também.

Se não conseguirem ficar num destes hotéis, ou num barco, e tiverem que se instalar num aldeamento, façam o seguinte: quando lhes perguntarem como se chama o local onde estão a passar as férias digam “eu estou instalado no…aaaatchiiimm…Golf”. As pessoas só conseguirão ouvir o golf e ficam muito bem impressionadas. Dá sempre pinta.

Os dias passam-se nas praias da Falésia, Tomates, Ancão, Praia da Quinta do Lago, Vale de Lobo e na praia do Sheraton. As conversas deles são: Os negócios, as fantásticas férias que fizeram na semana anterior na costa da Sardenha, as mulheres (não as suas, claro!! as que eles cobiçam!!) e os carros que têm e que vão comprar. Mais depressa falarão dum telenovela, do que dos filhos. Passam o dia sentados nos restaurantes (no Gigi, Vila Sol ou Passos). Vestem-se como os filhos e sobrinhos.

Elas falam sobretudo de três assuntos muito importantes: a) o local onde os filhos foram fazer o curso de verão para aprenderem inglês; b) o sítio para onde vão enviar o filho no próximo ano, porque está a desenvolver um enorme jeito numa determinada área, normalmente nas artes; c) a vida dos outros casais- onde está tudo errado, eles já não gostam um do outro, estão conformados e têm outras pessoas. Só o casamento delas é que está bom e corre tudo bem…ahahahah…desculpem este momento de espontaneidade).

Elas vestem-se como as sobrinhas, para parecerem mais novas, mas vão com muitos ouros, para o sol reflectir neles e chamar atenção sobre elas. É o “Onde está o Wally?” em versão Ancão. Olhar durante muito tempo para uma tia, pode causar cegueira, por causa da intensidade do reflexo do sol…cuidado!

Se tiverem conseguido dar a marretada no dono do barco, devem levá-lo todos os dias para frente do Ancão, e à hora de almoço vão até ao restaurante do Gigi. Melhor do que chegar de barco à praia, só mesmo aterrar de helicóptero.

Têm de sair da praia pelas seis horas e a seguir vão dar um passeio pela Marina; sentam-se numa esplanada, sempre num grupo de pelo menos 10 pessoas.

À noite eles vestem-se com calças beige ou azul escuro, e camisa (normalmente de uma só cor ou às riscas com fundo branco) aberta quase até ao umbigo, para mostrarem o bronze, ver-se um bocado do mamilo, e exibirem o fio de prata. Se tiverem muitos pelos no peito, evitem, porque senão podem passar por mestres de obra, ou serem considerados familiares do Macaco Hadrianno. As sempre clássicas calças vermelhas, já viram melhores dias.

Elas estão de vestido, com uns 3 centímetros quadrados de tecido. Está quase tudo à mostra, excepto a barriga. Essa parece estar por detrás de um bunker.

Jantar, só mesmo em locais onde possam gastar todo o cartão de crédito dourado, numa só noite: Restaurante Atlântico (no Hotel Vila Vita Park, em Armação de Pêra), Ermitage e São Gabriel (Vale de Lobo) e Casa Velha (Quinta do Lago)

Depois vão em procissão para o Páteo ou para oT-Clube e ficam lá até cerca das 3 horas, para que lhes tirem alguns quilómetros de fotografias.

(CAIXA 2)

ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!! ATENÇÃO!!!

Nunca se leva comida para a praia. Sandes de atum, de ovo ou de chourição, envoltas em folhas de alumínio podem fazer com sejam linchados. Almoça-se sempre num restaurante na praia. É caro?! Rifem os vossos pais, vendam a dentadura da vossa avó na feira da ladra ou leiloem um dos vossos rins à Máfia russa. Façam como quiserem, simplesmente levar comida para a praia é que não!!!!! Nem sequer um iogurte ou um Bolicao.

Chinelos, rádios sintonizados na Kiss FM ou Rádio Cidade, pára-vento roxo, guarda sol com publicidade ao Correio da Manhã…se alguma vez passou pela vossa cabeça em levá-los para a praia…nem que tivesse sido durante um milésimo de segundo, ou mesmo meio milésimo de segundo, lastimo informar-vos que nunca conseguirão em todas a vossa vida, nem mesmo que vivam até aos quinhentos e quarenta e dois anos, fazer parte da alta sociedade.

Também nunca poderão usar determinadas palavras: “moça/o”, “fónix”, “bué”, “fixe”, “chavalo/a”, “meu/minha”, “bacano/a”, “garina”, “pá”; nem sequer combinações: “Fónix…esta moça é bué da fixe”. Estão avisados. Já agora…não vale a pena tentarem conversar sobre o período cubista de Picasso, nem sobre a obra de Ernest Hemingway. Tentem e depois perceberão porquê!

Piercings no umbigo, na língua, na narina esquerda ou num dos mamilos são para esquecer.

Cuspir no chão, tirar petardos no nariz, limpar a cera dos ouvidos com o dedo mindinho podem dar origem a castigos corporais, envolvendo chicotes e esporas.

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